quinta-feira, 1 de julho de 2010

Aquela cruz...

(Adryadson Flabio Nappi)


Estava levando uma vida normal. Como de costume, estava de passagem na cidade e, com minha família, visitando o Templo para as festividades da Páscoa. Porém, naquele ano, aconteceu algo muito diferente dos outros.
Andando pela cidade com minha filha, percebi que um tumulto muito grande acontecia em frente do Palácio de Pilatos, o governador. Aproximei-me devagar e percebi que estava acontecendo um julgamento de dois ladrões.
Um deles havia sido condenado, e juntamente com mais dois outros ladrões, aquele Homem começou a levar a sua Cruz. Confesso não entender muito que estava acontecendo. Ao meu lado, percebi muitas mulheres chorando desesperadas, enquanto os soldados O maltratavam e humilhavam em público.
Decidi ficar um pouco distante daquilo tudo... Não queria me envolver com aquilo... Mas algo aconteceu com aquele Homem, que de repente caiu ao chão. Parecia estar acabado... Chegando ao limite de suas forças físicas...
Foi então que um dos soldados veio em minha direção e perguntou meu nome. Sem entender o que estava acontecendo, disse com voz um pouco trêmula: “Simão”. Imediatamente, aquele soldado ordenou que eu ajudasse aquele condenado a levar sua Cruz.
Minha vontade era de sair correndo naquele instante. Como poderia? Eu, um homem inocente carregar a Cruz de um condenado? Com o coração duro, gritei para todos que ali estavam: “Quero que fique claro que não sou culpado de nada!”.
Quando acabei de dizer isso, voltei os olhos para aquele homem chagado e caído ao chão, que me olhou com ternura e permaneceu em silêncio. Ainda mais confuso por tudo aquilo, ajudei-o a levantar do chão e, juntos, colocamos aquela Cruz sobre nossos ombros.
Estranhamente, aquele pedaço de madeira pesava mais do que qualquer outro. Por um momento, pensei que jamais seria tão pesado assim. Enquanto isso, muitas pessoas insultavam aquele homem “mudo”, e os soldados continuavam a chicoteá-lo.
Ele me olhava como alguém nunca me olhou. No seu silêncio ensurdecedor, ele me agradecia por aquilo de uma maneira única. Ele estava acabado... Cansado... Triste... Estava tentando arrumar forças para chegar até aquele calvário...
Por mais uma vez Ele caiu... Novamente, os soldados batiam Nele, obrigando-o a levantar-se. Ele permanecia calado. Minha garganta deu um nó angustiante. Como Ele poderia ficar tão quieto perante aquilo tudo.
Eu já não estava agüentando mais... Gritei para os soldados que O deixassem em paz. Por um instante, eles até o deixaram. Novamente, estendi os braços para aquele Homem desfigurado. Suas mãos estavam pegando fogo de tanta febre.
Mais uma vez ele me abraçou. Juntos, levantamos novamente aquele pedaço de maneira com peso de chumbo, e continuamos nossa angustiante caminhada rumo aquele monte. Pensei que não fosse agüentar... Debaixo daquele sol quente, minhas forças estavam acabando...
Aquela Cruz estava muito pesada... Olhei novamente para aquele Homem, que com muita coragem, começou a fazer mais força. Senti então o peso aliviar dos meus ombros... Agora sim parecia estar carregando uma simples cruz de madeira.
Aquele Homem olhou para mim e esboçou um leve sorriso. Seu rosto coberto com o sangue que vinha da cabeça coroada com espinhos, não conseguia cobrir o olhar penetrante daquele Homem.
Sem pronunciar nenhuma palavra, caminhamos juntos até aquele lugar chamado Gólgota. Enfim chegamos... Completamente consumido, o Homem caiu ao chão. Estranhamente, caí de joelhos e comecei a chorar.
Aquele silêncio tocou em mim de uma maneira única. Jamais tinha visto alguém assim. Seu jeito de olhar... Seu jeito de amar em meio aquela dor... Aquele dia, que parecia ser como qualquer outro, foi o dia em que minha vida mudou.
Ai de mim... Ainda quis me justificar perante a multidão dizendo que era inocente. Meu coração saia pela boca... Não tinha como não ver... Não tinha como fingir... Não tinha como não acreditar... Aquele Homem era Santo!
Quando ouvi de seus lábios uma oração dizendo: “Pai, perdoai, pois eles não sabem o que fazem”, entendi o que estava acontecendo naquele dia. Em cima daquela Cruz estava todo o pecado da humanidade. Inclusive o meu... Um homem chamado Simão, que antes de ajudar Jesus, o condenou e tentou justificar-se para todos que era inocente.
Um Simão fraco, que pensou em desistir, quando sentiu o peso da Cruz, mas que sentiu imediatamente o amparo e a força oculta daquele Cordeiro mudo, que carregou os meus pecados e permitiu que eu carregasse simplesmente uma cruz.
Foi assim que minha vida mudou! Foi assim que conheci um homem chamado Jesus, que mesmo diante de tanta dor e humilhação, conseguiu mostrar ao meu coração o verdadeiro amor. Aquele amor que não se cansa e nem descansa.
Sei que não era digno de ajudar aquele Homem em seu martírio, mas fiquei sabendo que Ele sempre foi assim... Sempre escolheu os fracos para confundir os fortes deste mundo. Perdão Senhor, Rei dos Judeus, e lembra-te de mim quando estiveres no Teu Reino.

Simão, o Cirineu.


Escrito por: Adryadson Flabio Nappi