quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O encontro de Levi

“Depois disso, ele saiu e viu sentado ao balcão um coletor de impostos, por nome Levi, e disse-lhe: Segue-me” (Lucas 5, 27).


A vida é um emaranhado de encontros e desencontros. Hoje estive sentado em um banco qualquer da praça e por algum tempo, fiquei observando o movimentar das pessoas que passavam por mim.
Fiquei ali refletindo o sentido de certas coisas e observando a reação de cada um. Gosto de observar a vida e o cotidiano é a matéria prima das minhas reflexões.
Percebi que alguns passavam por mim tão perdidos de si mesmos, que quase atropelavam a própria pressa. Expressões fechadas e passos largos, carregando nos ombros quem sabe uma multidão de problemas.
Outros já esboçavam um tímido “boa tarde” com um gesto de cabeça. Pareciam estar mais voltados para a presença do outro ao seu lado e menos perdido em seus próprios problemas.
Outros ainda pareciam estranhos demais... Andavam no meio das pessoas com um fone de ouvido como se no mundo só existe ele. Outros passavam sorrindo e conversando sozinho, parecendo achar graça em alguma coisa.
Enquanto isso, uma mulher toda suja, magra e triste quase era atropelada por essa pequena multidão que passava... Olhei tudo isso e comecei a pensar em Deus...
Na essência de minha reflexão, percebi a grandeza onipresente de Deus, que tudo sabe e tudo conhece de todas aquelas diferentes pessoas.
De uma forma ou de outra, caminhamos para um desconhecido que chamamos de futuro, sem saber o que nos espera. A beleza de tudo é entender que cada um daqueles que passavam tinham suas individualidades, medos, experiências vividas, decepções, alegrias e inquietações, mas, no mais profundo da existência, todos caminhavam em busca de um lugar para ser feliz.
Comecei a refletir na capacidade de Jesus em mostrar algo que, muitas vezes, passamos a vida correndo atrás e não alcançamos. Lembro-me de Levi, aquele coletor de impostos que se encontrou no olhar misericordioso de Cristo.
Levi estava trabalhando, sem pretensão alguma de nada, vivendo como excluído por trabalhar para os romanos e cobrando os impostos abusivos da época. Vivia no cotidiano comum de sua vida morna, quando de repente se vê perdido no olhar de um Homem repleto de compaixão, amor e sabedoria.
Jesus olhou para Levi e, sem dizer coisa alguma, mostrou que poderia ser diferente. O “segue-me” de Cristo naquele momento, foi uma resposta para aquilo que silenciosamente gritava no interior do coração de Levi.
Quantas pessoas que na correria do cotidiano, estão vivendo como aquele cobrador de impostos? Quantas delas buscam silenciosamente um olhar misericordioso de alguém, um olhar que as façam voltar-se para o que verdadeiramente importa na vida?
Quem será que mais precisa desse encontro? A pobre que mendigava ou o rico que tropeçava em sua pressa e em seus problemas? Quantos de nós passamos a vida realizando algo que sabemos que não me levará para a tão sonhada felicidade, simplesmente por aceitar a condição que o mundo me ofereceu?
Sim... Precisamos nos encontrar com esse homem que nos faz voltar para aquilo que deixamos de acreditar... Um “herói” diferente de todos os outros... Muito mais do que isso... Um Homem que viveu todos os segundos de sua vida para lembrar-nos da verdade máxima do amor e da valorização daquilo que desvalorizamos...
Um Homem que separou das multidões os cegos, paralíticos, leprosos, pobres, marginalizados e tudo o que ainda insistimos em “marginalizar”... Um Homem grandioso que deu valor a tudo que era pequeno... Um Deus menino ou um Homem entregue nas mãos das autoridades?
A força desse encontro de Levi em um dia normal de trabalho é incrivelmente fascinante, mas o convite de Cristo é ainda mais. Seguir Cristo é caminhar ao encontro de uma contradição desconcertante: um Homem fracassado em uma cruz ou um Deus abrindo as portas do céu?
Não tenho dúvida que tudo começa pelo encontro! No fundo, todos caminhamos para isso, de um jeito ou de outro, todos estaremos diante desse olhar penetrante... Mais cedo ou mais tarde, cada um do seu jeito e na sua condição, todos caminhamos para Deus.
A pergunta é: qual caminho estamos trilhando para o momento do nosso verdadeiro encontro? No fim de tudo, isso será o fator determinante... Como dizia Santa Madre Teresa de Calcutá, se você fizer e der o melhor de si para o outro, pessoas terão inveja de você e o tentarão fazer desistir do caminho. Dê o melhor de si assim mesmo, pois no final de tudo, será entre você e Deus, nunca foi entre você e as pessoas.
Deus nos abençoe!

Escrito por: Adryadson Flabio Nappi

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